O biogás e o biometano estão no centro dos debates sobre descarbonização de setores poluentes, entre eles o de transportes, e têm sido vistos como fundamentais para uma estratégia econômica sustentável globalmente.

No final de 2023, durante a 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP28), em Dubai, o biometano despontou como uma solução com enorme potencial para substituição de combustíveis fósseis.

Fonte renovável, proveniente da purificação do biogás gerado a partir da decomposição de resíduos sólidos urbanos e do agronegócio, ela poderá alcançar uma produção diária de cerca de 6 milhões de m3/dia até 2030, distribuídos em 86 plantas de produção, segundo estimativas da Associação Brasileira do Biogás (ABiogás).

Atualmente, o biometano vem sendo utilizado no abastecimento de veículos leves e pesados, em grandes frotas e transporte urbano, em substituição a combustíveis poluentes como diesel, gasolina, GLP, óleo combustível e gás natural.

O biometano pode abastecer veículos com kit de GNV (gás natural veicular), reduzindo em até 90% as emissões de poluentes, em comparação com a gasolina, e também é mais econômico, com eficiência até 30% maior que o etanol. Por isso o otimismo acerca do protagonismo do biometano na redução de emissões de metano.

A utilização do biometano no transporte rodoviário pode reduzir até 96% das emissões de carbono. Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), 117 milhões de toneladas de CO2 equivalente foram evitadas até janeiro de 2024 no país por meio do Programa RenovaBio, criado em 2017 para ampliar a participação dos biocombustíveis na matriz energética brasileira.

Segundo o Panorama do Biogás no Brasil 2022, do CIBiogás, o país conta com 936 plantas de biogás que realizam aproveitamento energético, sendo que destas, 885 encontram-se em operação (95%), 38 estão em implantação (4%) e 13 em reformulação ou reforma (1%).

Em 2022, foram registradas 20 plantas que fazem uso principal do biogás para produção de biometano, com capacidade de produção de 359,8 milhões de Nm³ por ano de biometano. Essa quantidade permite rodar 3.598 milhões de quilômetros por ano com veículos leves, e percorrer 900 milhões de quilômetros por ano com veículos pesados.

Políticas públicas de estímulo ao biometano

Em fevereiro de 2024, uma audiência da comissão especial da Câmara dos Deputados sobre transição energética reforçou a importância do biogás e do biometano no atual processo de descarbonização de setores poluentes da economia brasileira.

O encontro foi uma oportunidade de debate de diferentes atores da cadeia de biogás, com produtores, reguladores e usuários recomendando ajustes legislativos para que a transformação de passivos ambientais em ativos energéticos seja viável.

O mais recente Diagnóstico da Política Nacional de Resíduos Sólidos aponta um grande desafio: 37% dos municípios brasileiros não dispõem adequadamente os seus resíduos em aterros sanitários, o que resulta em um descarte incorreto de 30 milhões de toneladas de lixo por ano.

Biometano no mundo

Levantamento do Instituto de Investigação Tecnológica, da Espanha, revelou que Portugal e Espanha conseguiram reduzir 500 mil toneladas de emissões de dióxido de carbono em um ano ao adotar o biometano no transporte rodoviário.

A Europa fechou 2023 com mais de 1.300 plantas produtoras de biometano, um aumento de 30% em dois anos, de acordo com o Mapa do Biometano, publicado por entidades europeias de apoio ao mercado de biogás.

Nos Estados Unidos, o crescimento também é constante. Graças a incentivos governamentais para o setor de transporte, a capacidade de produção de biometano avançou 20% em 2022, ultrapassando a marca dos 10 milhões de m³dia. Os dados de 2023 ainda não foram divulgados, mas a estimativa é de mais crescimento.