O papel do biogás na descarbonização dos setores de energia e transporte
Blog do Cibiogas

O potencial do biogás como fonte limpa ganha destaque em todo o mundo, e uma das vertentes que pode trazer benefícios duradouros vem à tona quando pensamos no papel do biogás na descarbonização dos setores de energia e transporte.

Fonte renovável e “verde”, que reduz a emissão de gases do efeito estufa, o biogás é um dos protagonistas do processo de transição energética que visa à redução de insumos de origem fóssil, e pode ter aplicações como geração de energia elétrica, energia térmica, uso veicular e injeção nas redes de gás natural.

Com poder calorífico entre 4.500 e 6.000 kcal/m³, o biogás pode ser consumido diretamente, ou tratado para separação e aproveitamento do biometano, cujo conteúdo energético é similar ao do gás natural (9.256 kcal/m³).

O biometano pode abastecer veículos com kit de GNV (gás natural veicular), reduzindo em até 90% as emissões de poluentes, em comparação com a gasolina, e também é mais econômico, com eficiência até 30% maior que o etanol.

Além de geração de energia elétrica e substituição de combustíveis líquidos por biometano, o aproveitamento do biogás como energia térmica pode ser feito com a queima em caldeira para produzir vapor, a secagem de grãos para produzir ração, o aquecimento de aviários e a secagem de lodo de esgoto, substituindo o uso de lenha e de GLP (gás liquefeito de petróleo)

A relevância do biogás no processo de descarbonização dos setores de energia e transporte é reforçada no PDE (Plano Decenal de Expansão de Energia 2031), realizado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), com apoio das secretarias de Planejamento e Desenvolvimento Energético (SPE) e de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (SPG) do Ministério de Minas e Energia (MME).

Segundo o relatório, a Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio) e o Programa Combustível do Futuro devem impulsionar investimentos e alavancar novos combustíveis no país.

Principais fontes para produção de biogás

No Brasil, o maior potencial de biogás a ser explorado encontra-se no setor agropecuário (a partir de resíduos agrícolas e de pecuária confinada). Além disso, há um montante relevante que pode ser obtido por meio dos resíduos sólidos urbanos e do esgoto.

Em relação ao biogás do setor sucroenergético, o PDE 2031 projeta uma maior inserção na matriz, para geração de energia elétrica e substituição do diesel.  A estimativa é que o potencial de produção em 2031 alcance 7,1 bilhões de metros cúbicos – a partir da vinhaça e da torta de filtro – e 5,7 bilhões de metros cúbicos, vindos das palhas e pontas da cana-de-açúcar, ambos por meio da biodigestão.

Somam-se a isso as projeções da produção de etanol e açúcar, indicando elevada quantidade de resíduos do setor, que podem ser destinados à produção de biogás.

O PDE aponta ainda que o SAF (Sustainable Aviation Fuels) – na tradução para português, combustíveis sustentáveis de aviação – deve ser inserido na matriz energética nacional nos próximos anos, beneficiado pelas políticas públicas para viabilizar economicamente o bioquerosene de aviação.

Para 2031, a participação de mercado do SAF é calculada em 1,4% (cerca de 130 mil m³) da demanda total de combustível de aviação. A expectativa é de que as linhas aéreas adotem rotas tecnológicas certificadas.

Desafios do setor de biogás

Apesar das previsões otimistas para o futuro do setor, especialistas são unânimes em apontar alguns desafios que precisam ser superados nos próximos anos para que a cadeia de biogás atinja todo o seu potencial.

Questões como o aumento do investimento em pesquisas e tecnologia; melhoria da infraestrutura para produção e distribuição; maior conscientização da sociedade sobre os benefícios do biogás; aprimoramento na regulação e políticas públicas para incentivo são urgentes para o desenvolvimento do setor.

Algumas iniciativas trazem esperança de um novo cenário em breve. A Comissão de Meio Ambiente (CMA) aprovou, em dezembro de 2022, o Projeto de Lei do Senado (PLS) 302/2018, que estabelece estímulos para a produção de biogás, biometano e energia elétrica a partir do aproveitamento de resíduos sólidos em aterros sanitários.

Assim, o objetivo de reduzir a quantidade de dióxido de carbono gerada nos setores de energia e transporte fica mais próximo, atendendo às metas para controle da emissão de gases de efeito estufa estabelecidas em resoluções internacionais, como o Protocolo de Kyoto e o Acordo de Paris.