A influência da guerra no preço dos combustíveis mostra que o biometano é uma opção sustentável e econômica para a substituição de fontes não renováveis como o petróleo.
O conflito entre Rússia e Ucrânia afetou diversos aspectos da economia mundial, e a crise do petróleo foi uma das que gerou consequências mais rápidas. No Brasil, a Petrobras aumentou no começo de março em 18,8% o valor da gasolina e 24,9% o do diesel, impactando imediatamente o mercado. O aumento motivou a aprovação de projeto de lei pelo Congresso Nacional para diminuir a carga na cobrança de ICMS pelos estados.
Em um cenário de incertezas quanto à duração e desdobramentos da guerra no leste europeu, e em que os debates sobre a política de preços da Petrobras se intensificam, o biometano ganha ainda mais força como fonte alternativa, sustentável e econômica, para substituir os derivados do petróleo.
O biometano pode ser utilizado como combustível para abastecer qualquer veículo com kit de GNV (gás natural veicular), com a vantagem de ser uma fonte renovável. Ele pode reduzir em até 90% as emissões de poluentes, em comparação com a gasolina, e sua utilização previne o lançamento de metano na atmosfera, contribuindo para diminuir o aquecimento global.
O biometano também é mais econômico, com eficiência até 30% maior que o etanol, por exemplo. O processo de produção faz com que o metano seja separado do gás carbônico em uma biorrefinaria, deixando de ir para a atmosfera, e seja utilizado na câmara de combustão dos motores dos automóveis para produção de energia para movimentar o veículo.
Segundo projeção da Associação Brasileira do Biogás e Biometano (ABiogás), o biometano poderia abastecer 25% da frota brasileira. No Brasil, o maior potencial de biogás encontra-se no setor agropecuário e outro montante relevante pode ser obtido por meio dos resíduos sólidos urbanos e do esgoto.
Com as boas perspectivas para o biometano, iniciativas públicas e privadas buscam transformar em realidade as projeções de crescimento da utilização dos produtos para a produção de combustíveis.
O (PDE) Plano Decenal de Expansão de Energia 2031 da EPE (Empresa de Pesquisa Energética) destaca o biogás como rota para descarbonizar transportes. A Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio) e o Programa Combustível do Futuro devem impulsionar investimentos para alavancar novos combustíveis como o biometano no país.
Em relação ao biogás do setor sucroenergético, o PDE 2031 projeta uma maior inserção na matriz, tendo como um dos focos a substituição do diesel. A estimativa é que o potencial de produção em 2031 alcance 7,1 bilhões de metros cúbicos – a partir da vinhaça e da torta de filtro – e 5,7 bilhões de metros cúbicos, vindos das palhas e pontas da cana-de-açúcar, ambos por meio da biodigestão.
Uma nova ação do governo federal, o Programa Nacional de Redução de Emissões de Metano, o Metano Zero, vai estimular a transformação desse gás em biocombustível, com suporte financeiro de bancos públicos.
O mercado de créditos de carbono é outra meta da iniciativa. Para o Ministério do Meio Ambiente, o Brasil tem vantagens competitivas nesse mercado, como o custo menor para redução de emissão, a criação de regras para garantir a qualidade do carbono e a diversidade de fontes, como as de energia renovável e a proteção e recuperação de florestas nativas.
Outra medida do governo foi incluir os investimentos em biometano no Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento da Infraestrutura (Reidi). O objetivo é contribuir para a construção de novas plantas para produção do biometano.
Segundo o Ministério de Minas e Energia, o investimento previsto é superior a R$ 7 bilhões, com geração de 6.500 empregos na construção e operação de 25 novas plantas distribuídas em São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Assim, a produção deve saltar de 400 mil metros cúbicos por dia para 2,3 milhões de metros cúbicos por dia em 2027.
Com a influência da guerra no preço dos combustíveis, o biometano surge como uma opção sustentável e econômica que pode garantir independência em relação às oscilações do mercado, além de inúmeros benefícios ambientais, mostrando o potencial do biogás para a cadeia de energia e combustível.