Do biogás ao hidrogênio - o que é necessário para migrar para a quarta rota?
Blog do Cibiogas

A produção de hidrogênio de baixo carbono é tida como uma das promissoras oportunidades para a cadeia do biogás. Mas o que é necessário para a migração efetiva para essa quarta rota? 

O biogás é uma fonte limpa de energia que oferece muitos benefícios: é abundante no território brasileiro, 100% sustentável, fácil de armazenar e versátil, podendo ser transformado em eletricidade e combustíveis sintéticos. 

E um dos processos que vem sendo desenvolvido para a obtenção de hidrogênio de baixo carbono é a reforma do biogás e/ou biometano. O CIBiogás vem trabalhando para o desenvolvimento do processo de reforma catalítica, que transforma o biogás e/ou biometano em gás de síntese, o qual é caracterizado como uma mistura gasosa de H2 e CO, que pode ser purificado em H2 ou aplicado em processos de obtenção de combustíveis sintéticos. 

Hoje, existem quatro tipos de reformas catalítica disponíveis: a vapor, bi-reforma, tri-reforma ou reforma a seco. A escolha da tecnologia de reforma dependerá de aspectos como a razão entre CH4/CO2, volume de gás e finalidade da utilização do H2, entre outros.

“As rotas não competem entre si. Tanto a rota via reforma a biogás e biometano, quanto a da eletrólise são complementares e podem melhor atender as necessidades de cada região e suas características“, afirma Aline Scarpetta, coordenadora da área de Captação de Recursos do CIBiogás.

Ela também ressalta algumas dessas vocações. “As regiões Norte e Nordeste têm a vocação solar, eólica, contam com a facilidade da proximidade do porto para exportação. No interior do país, por exemplo, no Sul, o agronegócio tem forte potencial para o biogás”.

Rota para descarbonizar transportes

“O hidrogênio tem sido muito falado quando pautamos o gás fóssil, e o hidrogênio também tem a possibilidade de ser aplicado na mobilidade de transporte, tanto pesado quanto leve, o que é muito atrativo para o mercado”, destaca Nicolas Berhorst, coordenador da área de Mercado do CIBiogás.

Segundo ele, o Brasil tem os melhores cenários para hidrogênio. “Energia elétrica sendo produzida a um baixo custo, próxima aos portos do Nordeste, onde o hidrogênio pode ser exportado para países do hemisfério Norte. Nós temos também a produção de biogás que pode ser transformado em hidrogênio e combustíveis avançados de forma descentralizada, e muito importante: com a tecnologia que está sendo desenvolvida aqui no Brasil”, completa.

Políticas públicas

Algumas iniciativas estão ajudando a impulsionar a geração de hidrogênio de baixo carbono no país. O Programa Nacional de Hidrogênio tem buscado regulamentar o produto, e a ABH2 (Associação Brasileira de Hidrogênio) trabalha para facilitar esse processo, buscando formas mais rápidas de reconhecer o biogás como hidrogênio de baixo carbono e viabilizar a produção.

O CNPE (Conselho Nacional de Política Energética) também está atento ao tema e lançou o programa “Combustível do Futuro”, que busca incentivos à adoção de combustíveis sustentáveis. 

Regionalmente, iniciativas contribuem para um panorama mais favorável. O Governo do Paraná trabalha na elaboração de uma política pública de aproveitamento de forma intensiva de dejetos agropecuários com vistas à produção de biogás e biometano e foco no hidrogênio de baixo carbono. 

O Sistema Estadual de Agricultura (Seagri) criou um grupo de trabalho e, neste ano, há uma continuidade nas ações de apoio e incentivo aos produtores rurais, dentro do escopo do Programa Paraná de Energia Rural Renovável (Renova PR), que já apoia o financiamento de usinas sustentáveis. O grupo estuda um plano que estabeleça uma política pública de aproveitamento racional e eficiente das possibilidades de energia renovável. 

A nova política que estimulará o biogás, e o biometano pretende ampliar os benefícios e estímulos tanto pela tributação incentivada como pela subvenção às taxas de juros dos financiamentos rurais. Assim, produtores, agroindústrias e cooperativas agropecuárias têm maiores atrativos para instalar biodigestores em suas propriedades.

No exterior, o setor também é visto com grande potencial. O Grupo Banco Mundial criou a Hydrogen for Development Partnership (H4D), uma iniciativa global para impulsionar a implantação de hidrogênio de baixo carbono em países em desenvolvimento.