O potencial do biogás como combustível para aviação e transporte marítimo faz com que ações para produção de combustíveis renováveis e redução das emissões de gases do efeito estufa ganhem espaço no mercado de energia.
O CIBiogás também dá sua contribuição com uma iniciativa inovadora: uma parceria entre a Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável – por meio da Agência Técnica de Cooperação Alemã GIZ –, a Fundação Araucária e a Universidade Federal do Paraná (UFPR) para a produção de bioquerosene a partir de biogás e hidrogênio verde.
O projeto, que tem ainda o apoio do Núcleo de Pesquisas em Hidrogênio do Parque Tecnológico Itaipu (PTI) e Itaipu Binacional, contará com investimentos de R$ 9 milhões e será realizado no Paraná durante dois anos. O lançamento ocorreu em evento no último final de semana de abril.
A intenção é utilizar fontes renováveis para substituir combustíveis fósseis que causam impacto climático, com tecnologias alternativas como a produção de SAF (Combustível Sustentável de Aviação) em pequena escala, em um processo de descarbonização dos transportes.
A partir da planta piloto no Paraná, há expectativa de criação de polos de hidrogênio verde em regiões com excedentes de energia renovável, além de uma nova rota de aproveitamento energético do biogás.
Ao substituir o carbono pelo uso do biogás, combinando-o com o hidrogênio verde produzido a partir de água e energia renovável, a iniciativa cria uma nova rota tecnológica para fontes alternativas de energia.
Os benefícios vão além, com o incentivo à bioeconomia local e reforço de medidas sustentáveis, como a necessidade do tratamento adequado dos resíduos orgânicos. Uma de suas características é que ele pode ser replicado em todo o país, aproveitando a disponibilidade de biomassa residual.
A parceria integra dois projetos da GIZ: o H2Brasil, que busca a expansão de hidrogênio verde no país, em colaboração com o Ministério de Minas e Energia (MME) e o ProQR, voltado para a produção local e descentralizada de combustíveis sustentáveis para redução do carbono na atmosfera, coordenado em conjunto com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).
Empresas de transporte marinho também estão investindo no desenvolvimento de fontes sustentáveis de combustível. Apesar desse tipo de transporte ser responsável por apenas 3% das emissões de gases de efeito estufa, a Organização Marítima Internacional estabeleceu como meta reduzir pela metade as emissões nos próximos 30 anos.
Segundo a Agência Internacional para as Energias Renováveis (IRENA, na sigla em inglês), fontes alternativas como biocombustíveis, hidrogênio e amônia verde têm potencial para reduzir em 80% as emissões de carbono do setor até 2050.
O Plano Decenal de Expansão de Energia 2031, divulgado em fevereiro pela EPE (Empresa de Pesquisa Energética), coloca o biogás como rota para descarbonizar transportes. Segundo o documento, a Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio) e o Programa Combustível do Futuro devem impulsionar investimentos e alavancar novos combustíveis no país.
O relatório traz estimativas para biogás, biometano, SAF, hidrogênio e diesel verde, destacando que essas fontes ainda precisam de marcos legais para ganhar competitividade e se estabelecerem como mercado no Brasil.
O biometano pode abastecer qualquer veículo com kit de GNV (gás natural veicular), com a vantagem de ser renovável. Ele pode reduzir em até 90% as emissões de poluentes, em comparação com a gasolina, e também é mais econômico, com eficiência até 30% maior que o etanol.
Segundo a Associação Brasileira do Biogás e Biometano (ABiogás), o biometano poderia abastecer aproximadamente 25% da frota brasileira, com seu aproveitamento integral.
O maior potencial de biogás no Brasil encontra-se no setor agropecuário (resíduos agrícolas e pecuária confinada). Resíduos sólidos urbanos e do esgoto também podem ser utilizados.