O biogás é tido como um dos mais promissores ativos energéticos em todo o mundo. Fonte limpa e renovável, ele consegue aliar sustentabilidade e lucratividade, e um dos aspectos mais relevantes é a transformação de passivos – como os resíduos de aterros sanitários, de processos industriais e da agropecuária – em energia.
Segundo o Panorama dos Resíduos Sólidos Brasil, divulgado pela Abrema (Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente), o brasileiro gera em média 1,04 kg de RSU (resíduo sólido urbano) por dia. São cerca de 77,1 milhões de toneladas de RSU geradas por ano no país.
Desse total, 7% não são coletados, tendo destinação final inadequada, o que gera riscos ao meio ambiente e à saúde pública. Do percentual coletado, 61% foram encaminhados para aterros sanitários, correspondendo a 43,8 milhões de toneladas de resíduos. O restante também foi para áreas inadequadas.
O problema afeta ainda os serviços de limpeza urbana, dos quais fazem parte a coleta, transporte, tratamento e disposição final de RSU. A estimativa da Abrema é que as despesas dos municípios com limpeza urbana são de aproximadamente R$ 29,2 bilhões por ano.
Resíduos industriais e agropecuários
O Panorama do Biogás 2023, publicação do CIBiogás, mostra que o principal substrato utilizado para produção de biogás no Brasil vem de RSU ou esgoto (63%), mas há ainda duas fontes importantes: resíduos da indústria (20%) e da agropecuária (17%).
Entre os substratos industriais, os efluentes e demais resíduos orgânicos provenientes do processo produtivo podem ser aproveitados para produção de energia, garantindo a destinação correta dos resíduos.
No caso da agropecuária, dejetos como esterco animal, efluente proveniente do manejo de dejetos (urina, fezes, água de lavagem, etc.), restos de ração e carcaça de animais mortos não abatidos também podem ser aproveitados para a geração de energia.
Os substratos agropecuários são utilizados em 1.096 plantas de biogás, o que corresponde a 80% do total de plantas do país e produção de 809 mi Nm³/ano.
Biogás gerando energia elétrica, térmica, biometano e GNR
Segundo o levantamento do CIBiogás, a energia elétrica é a principal aplicação, com 57%, seguida de GNR (gás natural renovável)/biometano (38%) e energia térmica (4%). Das 1.365 plantas em operação, 86% geram energia elétrica; 9%, energia térmica; 3%, GNR/biometano; e 0,4%, energia mecânica.
Um cenário positivo para o aproveitamento dos resíduos, principalmente se considerada a estimativa de aumento de capacidade instalada de produção de biogás, que cresceu em média 21% ao ano no acumulado entre 2019 e 2023.
Atualmente em 4,1 bi Nm³/ano, ela deve atingir 4,6 bi Nm³/ano com a entrada em operação de novas plantas. Além disso, a Abiogás (Associação Brasileira de Biogás e Biometano) calcula um potencial teórico de curto prazo de 10,8 bi Nm³/ano, e de 84,6 bi Nm³/ano em longo prazo.
Dessa forma, o aproveitamento do biogás para transformar passivos em ativos energéticos se configura como uma decisão estratégica para os poderes público e privado, trazendo ainda benefícios ambientais, sociais e econômicos.