10 marcos do setor de biogás
Blog do Cibiogas

O CIBiogás completa 10 anos em 2023, e esta década de dedicação ao desenvolvimento da cadeia de biogás foi repleta de momentos importantes. Confira agora 10 marcos do setor de biogás:

1- Criação da ABiogás

Em 2013, o CIBiogás e outras organizações criaram a Associação Brasileira de Biogás, a Abiogás, que hoje conta com mais de cem associados e conduz assuntos estratégicos, como regulamentações que envolvem o tema biogás e biometano.

Atuando como um canal de interlocução com a sociedade civil, os governos federal e estaduais, as autarquias e os órgãos responsáveis pelo planejamento energético brasileiro, a Abiogás tem como objetivo transformar a energia elétrica, combustível e térmica, geradas pelo biogás, em commodities energéticas amplamente utilizadas, com uma participação de 10% na matriz brasileira.

A Abiogás conta com empresas associadas que representam todos os setores da cadeia de produção, aproveitamento e beneficiamento do segmento de biogás. Atualmente, o CIBiogás atua no conselho de administração.

2- Biogás como Energia Elétrica

A geração de energia elétrica a partir de placas solares se conecta à rede de distribuição por meio da modalidade de geração distribuída (GD), e a primeira conexão de GD foi com energia gerada a partir do biogás, na Granja São Pedro – Colombari. 

A atuação do CIBiogás, junto com ações pioneiras da Granja Colombari, da Copel e outros parceiros, possibilitaram a atualização da norma 482 da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), que foi revogada em 2023, com a regulamentação da lei 14.300, que instituiu o marco legal da microgeração e minigeração distribuída, o Sistema de Compensação de Energia Elétrica (SCEE) e o Programa de Energia Renovável Social (PERS).

Segundo o Panorama do Biogás no Brasil 2021, 87% das plantas de biogás do país geram energia elétrica, possibilitando produção de 2,9 TWh/ano, o equivalente ao abastecimento de mais de 1 milhão de residências.

3- Biogás como Energia Térmica

O biogás e o biometano são fontes alternativas para geração de energia térmica em substituição ao GLP e à lenha em caldeiras industriais, por exemplo.

O CIBiogás e a Embrapa fizeram um estudo aprofundado e com aplicação de campo voltado às florestas energéticas. Foram dois projetos principais, nos quais o eucalipto foi colocado como matéria-prima principal, com o objetivo de desenvolver, otimizar e viabilizar alternativas tecnológicas ligadas à área de uso da biomassa florestal como fonte de energia. Os resultados entre todos os parceiros envolvidos propiciaram mais de 200 trabalhos técnicos e técnico-científicos.

Dados do Panorama do Biogás no Brasil 2021 mostram que 11% das plantas de biogás do país geram energia térmica, com produção de 5,5 Mt/ano, o equivalente energético a mais de 4 milhões de botijões de gás.

4- Biogás e Biometano como Energia Veicular

Na Unidade de Demonstração da Itaipu Binacional, o CIBiogás abasteceu a frota de veículos leves com o biometano gerado a partir dos resíduos de três restaurantes internos e de resíduos de apreensões, a partir das parcerias estabelecidas com a Receita Federal e o MAPA (Ministério da Agricultura e Pecuária).

O biometano também foi o combustível escolhido para o ônibus da Scania e para o trator da New Holland. Para esses abastecimentos, o CIBiogás transportou o produto vindo da Granja Haacke, em Santa Helena (PR), que produz biogás e biometano a partir dos resíduos de aves poedeiras.

Os testes e aplicações em diferentes veículos e em diversas situações, assim como a produção de biometano com resíduos distintos, possibilitaram sugestões para alteração e modernização da regulamentação ANP nº 8, que estabelece as especificações para o biometano e sua comercialização.

As plantas de biometano do país têm capacidade de produção de 435 Nm³/dia, que equivale a 378 litros de diesel/dia, de acordo com o Panorama do Biogás no Brasil 2021.

5- Tecnologias para o biogás

O desenvolvimento de tecnologias é um dos principais objetivos do CIBiogás. Algumas das inovações na nossa primeira década foram:

– Filtro para remoção de ácido sulfúrico (H2S), feito pela parceira 3Di por meio do programa Sebraetec, do Sebrae;

– Rede de coleta de biogás interligando 18 propriedades rurais até a Minicentral Termelétrica de Entre Rios do Oeste (PR), realizada por meio de um P&D com a Copel;

– Sistema de membranas poliméricas para purificação do biogás – parceria UBE e 3Di.

6- Arranjos de biogás

O CIBiogás construiu diferentes modelos de negócios ao longo desses dez anos, como cooperativa, associação, condomínio rural, parceria e contrato de locação. Estamos atualizados sobre as novas regulamentações para a construção de contratos que trazem a segurança e a eficiência necessária à sustentabilidade de arranjos.

O projeto da Termelétrica em Entre Rios do Oeste (PR), por exemplo, visa à geração de energia elétrica utilizando o biogás produzido em propriedades suinocultura do município.

As propriedades rurais, consideradas unidades produtoras de biogás, são conectadas a uma rede coletora de 20,6 quilômetros (ramal principal), que transporta o biogás até uma Central Termelétrica de 480kW de potência instalada com dois grupos motogeradores. Na Minicentral, o biogás é transformado em energia elétrica, que por sua vez compensa o consumo de energia dos prédios públicos do município.

O projeto tem como premissa adquirir a expertise para replicação do arranjo em outros municípios paranaenses e servir de modelo para novas iniciativas. De forma direta, estimula a economia da região, fomentando uma nova oportunidade de serviços especializados e suprimentos, com alta demanda de mão de obra especializada e fornecedores.

Nossa equipe também customiza soluções voltadas para redução de custos, com tratamento e disposição de resíduos orgânicos, alteração da matriz energética e substituição de fontes externas de energia por biogás, biomassa ou biometano, além da redução no consumo de fertilizantes.

7- Microgrids (microrredes)

A microgrid surge como uma possibilidade para atender consumidores em situações de problemas de suprimento de eletricidade. Ela opera de forma isolada, sem conexão com a rede. Ou seja, o biogás disponível em uma propriedade rural (locais onde normalmente o abastecimento de eletricidade apresenta instabilidade) tem potencial para ser utilizado para geração de energia elétrica, conferindo segurança energética, qualidade no fornecimento e confiabilidade.

O biogás acaba sendo a principal fonte para as microgrids distribuídas em meio rural, onde normalmente não há presença de PCH (pequena central hidrelétrica) ou CGH (central geradora hidrelétrica).

Outras vantagens são: minimiza a emissão de gases de efeito estufa (GEE) e de carbono; incentiva e melhora a integração de fontes de energia distribuída e renováveis; possibilita o uso da tecnologia de redes inteligentes; competitividade; qualidade de energia que pode ser controlada localmente, com segurança para o usuário final e operador de rede. 

A Granja São Pedro – Colombari foi a escolhida para inaugurar o primeiro projeto do tipo no país, possuindo características essenciais para a execução do projeto. A Itaipu Binacional é a proponente deste arranjo, que reúne como executores o CIBiogás, Parque Tecnológico Itaipu (PTI) e Copel como entidades realizadoras. 

8- Central de Bioenergia de Toledo

Desenvolvido e gerido pelo CIBiogás, o projeto tem como objetivo a produção de energia elétrica com uma potência instalada de 1 MW, utilizando-se do biogás produzido a partir do tratamento por digestão anaeróbia de efluentes da suinocultura, carcaça de suínos não abatidos e resíduos agroindustriais da região de Toledo (PR) como fonte primária de energia.

O CIBiogás articulou a parceria entre Itaipu, PTI, Prefeitura de Toledo, ADAPAR (Agência de Defesa Agropecuária do Paraná), Assuinoeste (Associação dos Criadores de Suínos do Oeste do Paraná) e 18 propriedades rurais.

 A energia produzida, capaz de abastecer aproximadamente 1.800 residências de médio porte, será vendida. Um modelo de negócio sustentável, capaz de viabilizar a replicação da solução. A previsão é de que sejam gerados 324 MWh de energia por mês, evitando a emissão de 10 mil ton CO2/ano.

9- GEF Biogás Brasil

O projeto GEF Biogás Brasil converge ações e investimentos de parceiros internacionais, empresas, entidades setoriais e governo pelo estímulo à integração do biogás na cadeia produtiva brasileira.

O projeto tem como objetivo principal reduzir a emissão de gases de efeito estufa e a dependência nacional de combustíveis fósseis. O projeto é liderado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI); financiado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF); e implementado pela Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO).

O GEF Biogás Brasil oferece apoio técnico para conversão de resíduos orgânicos em energia e combustível, além de suporte na criação de modelos de negócios e assistência especializada sobre financiamento e políticas públicas referentes ao setor.

As principais ações junto à agroindústria ocorrem na Região Sul do país, onde há grande potencial de desenvolvimento do biogás em curto prazo. Já na frente de resíduos urbanos, o Projeto trabalha em cooperação com o Governo do Distrito Federal para desenvolver iniciativas na área de tratamento de resíduos sólidos orgânicos para a produção de biogás.

Ao longo da execução do projeto, desde 2018, foram entregues dados atualizados sobre oferta e demanda de biogás, novos modelos de negócio voltados para o setor, análises regulatórias, políticas públicas favoráveis, serviços financeiros especializados, unidades de demonstração de tecnologia e negócios, bem como serviços de capacitação.

10 – Políticas Públicas

As políticas públicas auxiliam no desenvolvimento e no incentivo real de novas plantas e novas soluções para a cadeia do biogás e biometano. O CIBiogás sempre participou de debates e liderou discussões acerca da legislação, que geraram o código tributário com subsídios para a geração de energia renovável em Minas Gerais, marcos legais do biogás no Paraná e Santa Catarina, programa RenovaBio e a política estadual de gás natural renovável do Rio de Janeiro, entre outros.

Outra conquista recente foi a participação, em conjunto com a Abiogás, nos debates sobre o Departamento de Descarbonização e Finanças Verdes (MDIC) e o Marco Legal da MMGD (Micro e Minigeração Distribuída) – Comissão de Minas e Energia.

Extra: Hidrogênio verde e o biogás no futuro

Como vimos nestes 10 marcos do setor de biogás, são muitas conquistas, mas sabemos que os desafios continuam na meta de viabilizar, na prática, todo o potencial do setor.

Os principais processos para a obtenção do hidrogênio verde são por meio do biogás e do biometano. Essa é uma das fontes limpas de energia mais promissoras, pois é abundante, 100% sustentável, fácil de armazenar e pode ser transformada em eletricidade e combustíveis sintéticos.

O CIBiogás vem trabalhando para o desenvolvimento da reforma catalítica a seco do biogás. Essa rota, diferentemente da reforma a vapor do biometano, não requer a retirada do CO2 do composto, permitindo que as parcelas de CH4 e CO2 sejam convertidas em gás de síntese e, posteriormente, purificadas em hidrogênio renovável.

Outra iniciativa deve trazer bons frutos. Com o objetivo de reduzir as emissões de gases do efeito estufa pelo setor aeroportuário, foi lançada uma parceria para a produção de combustíveis renováveis a partir de biogás e hidrogênio verde. Os responsáveis são a Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável, por meio da Agência Técnica de Cooperação Alemã GIZ (Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit GmbH), o CIBiogás, a Fundação Araucária, a Universidade Federal do Paraná (UFPR), com apoio do Núcleo de Pesquisas em Hidrogênio do Parque Tecnológico Itaipu (PTI) e Itaipu Binacional.

O empreendimento será realizado no estado do Paraná ao longo de dois anos e vai contar com investimentos na ordem de R$ 9 milhões. A ideia é desenvolver tecnologia alternativa que seja utilizada pelo setor de transportes para restringir os impactos climáticos gerados pela queima de combustíveis fósseis, como a produção de Combustível Sustentável de Aviação – SAF em pequena escala. O projeto prevê também a transferência de conhecimentos e a produção descentralizada de combustíveis renováveis a partir da elaboração de um modelo técnico.