Como o biogás pode influenciar o setor pesqueiro?
Blog do Cibiogas

O biogás pode influenciar positivamente o setor pesqueiro, com a perspectiva de aproveitamento dos substratos da atividade. O panorama atual na região Amazônica brasileira mostra esse potencial.

A produção de peixe é uma atividade importante na região, que garante renda e alimentação. A piscicultura conta com uma produção estimada de 159.847 toneladas por ano no Amazonas, Rondônia, Amapá e Roraima.

O tambaqui, peixe nativo, é a principal espécie produzida em toneladas, representando 55% em relação à produção total de peixes da região, com Rondônia na liderança.

Os frigoríficos são os locais onde há maior centralização destes substratos e foram os estabelecimentos pesquisados para identificar o potencial de produção de biogás a partir desse substrato no estudo “Potencial de Produção de Biogás na Região Amazônica – Oportunidades da Bioeconomia”.

Realizado pelo CIBiogás, em parceria com o Instituto Escolhas, ele coletou dados de 30 frigoríficos da região, responsáveis por 37.689 toneladas de peixes e 20.160 toneladas de resíduos.

O levantamento estima em 136 milhões Nm³/ano a produção nos quatro estados. O Amazonas lidera a lista, com quase 77 milhões, seguida por Rondônia (33 milhões), Amapá (15 milhões) e Roraima (11,4 milhões).

 

Aproveitamento do biogás

Atualmente, os quatro estados só possuem duas plantas de biogás em operação (uma no Amazonas e outra em Rondônia), segundo a pesquisa “Panorama do Biogás no Brasil 2021”.

O biogás pode ser utilizado para produção de biometano, GLP e energia elétrica. Com o potencial total, seria possível produzir mais de 5 milhões de botijões de gás ao ano, 102 milhões Nm³/ano de biometano – que gerariam 88,7 milhões de litros de diesel – e cerca de 283 milhões kWh/ano de energia elétrica, suficiente para abastecer 107.181 residências.

 

Perspectivas para a região amazônica

O estudo “Potencial de Produção de Biogás na Região Amazônica – Oportunidades da Bioeconomia” tem como objetivo apresentar dados e informações que subsidiem o desenvolvimento de ações estruturantes para o desenvolvimento sustentável da Amazônia no âmbito das energias renováveis.

O percentual médio de matéria orgânica identificada, considerando Amapá, Amazonas, Roraima e Rondônia, foi de 49,9%. Ou seja, considera-se que metade de todo o volume de RSU gerado nesses estados pode ser utilizado para produção de biogás.

Entre as instalações analisadas, apenas o Aterro de Manaus realiza aproveitamento energético do biogás, o que mostra que 80% do potencial de biogás, que poderiam abastecer 83 mil residências, não são aproveitados energeticamente.

Esses resultados podem subsidiar o fomento de políticas públicas, projetos com foco em segurança energética e suporte ao desenvolvimento das regiões, baseados em uma matriz energética limpa e renovável, potencializando o uso dos recursos energéticos locais e criação de uma economia circular.

Além disso, considera-se benefícios sociais, econômicos e ambientais envolvidos nesse processo, pois permite, por exemplo, a redução da emissão de gases do efeito estufa, a destinação e tratamento adequado para esses resíduos e o desenvolvimento sustentável do território.

 

Papel estratégico

Os especialistas consideram a conversão da matéria orgânica residual, oriunda de resíduos e efluentes, em um ativo energético como o biogás uma estratégia para o desenvolvimento de soluções para os desafios energéticos e ambientais da região.

A diversificação de fontes de energia é indispensável para o desenvolvimento socioeconômico e ambiental sustentável, e o fortalecimento de uma cadeia de suprimento energético potencializa o crescimento regional que, baseado nas energias renováveis não convencionais, viabiliza um modelo de atividade sustentável.

Quanto ao fornecimento de energia elétrica, a região Amazônica enfrenta alguns desafios para atender às comunidades isoladas, ainda sem acesso à rede de energia elétrica, infraestrutura de comunicação, e limitações de saneamento básico.

Nesse contexto, o estudo foi estruturado para apresentar o potencial dos Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) e da agroindústria do abate de peixes, na produção de biogás e energia na região Amazônica, com intuito de promover a reflexão e a conscientização sobre o setor, bem como a implantação de iniciativas e projetos que contribuam para o incremento competitivo da bioeconomia da região, incentivando a cooperação entre empresas, governos e instituições de pesquisa.

 

Como colocar em prática o potencial do biogás

O estudo considera que, para o aproveitamento desse potencial, é necessário analisar os desafios e oportunidades. O documento lista algumas sugestões:

  • Popularização do biogás na Região Amazônica;
  • Proposição de políticas (linhas de crédito, implementação de incentivos fiscais, regulamentações, fomento ao uso de recursos dos Fundos Setoriais para desenvolvimento de projetos de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico (P&D) em biogás;
  • Ações para Intercooperação;
  • Consolidação de Unidades de Referência Tecnológica (URTs);
  • Desenvolvimento da cadeia de fornecedores;
  • Segurança energética da região.

 

Métodos de monetização do biogás na região amazônica

Na conclusão do estudo, são destacados os métodos de monetização:

  • Venda de biogás;
  • Energia térmica;
  • Comercialização de substratos para produção de biogás;
  • Biometano;
  • CO²;
  • Fertilizante orgânico /condicionador de solo;
  • Energia elétrica.
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